O LÚDICO: UMA ABERTURA PARA NOVOS PENSAMENTOS
NO CAMPO PEDAGÓGICO
Existe um ser a quem a maioria de nós, muitas vezes tem esquecido; se foi recordado uma vez ou outra, foi de forma circunstancial, mas essa recordação fugaz não cumpre o objetivo a seguir assinalado, razão pela qual há que se declarar seu geral esquecimento.
Esse ser é a criança que cada um de nós “foi”, que nos proporcionou os melhores dias da existência e a quem, poderíamos dizer, devemos grande parte do que agora somos.
São muitas as reflexões que acodem à mente quando a recordação converge para a criança; mas é necessário evocá-la com freqüência, para que nos inspire coisas sobre as quais até aqui não havíamos pensado.
Se esquecemos nossa própria criança cometemos com isso, talvez sem querer, um crime simbólico: morrerá também o jovem e, sucessivamente, o que somos ou fomos em cada idade. Assim se irá esfumando no esquecimento e, sem que sintamos, morrerá em nós, lentamente, toda a nossa vida. Com isso perdemos a dimensão lúdica da existência. Perdemos nossa capacidade de brincar.
A maioria dos adultos perderam ao longo dos anos e por circunstâncias diversas a capacidade de se encantar com pequenas coisas. Acreditam que o mundo dos adultos é sério, tenso, de “grandes” responsabilidades. Não sabem mais rir de si mesmos.
Tudo isso é triste, mas o maior perigo está quando essas pessoas desencantadas assumem o papel de educadores. Fazem uma “escola de adultos” onde as crianças devem ser “moldadas”. Cometem um segundo crime simbólico “matam” a criança que há em cada criança. Começamos a formar mais adultos que não sabem brincar. Rabugentos, mal humorados e infelizes. Se isso for além vamos exterminar a existência humana. Mataremos as bonecas de pano, as fadas, os super-heróis e os monstros...
Quem não sabe brincar não pode ser educador. É como tentar dar uma aula em um idioma diferente do falado pelos alunos. Quem não brinca não se comunica com a criança, com o adolescente. É impossível pensar educação sem comunicação.
Uma escola onde não se brinca pode ser tudo, mas não uma Escola. O brincar permite a criança e ao adolescente resolver conflitos internos, além de garantir a construção do conhecimento e do desenvolvimento emocional, cognitivo e social. O tempo utilizado para brincar contribui para o seu bem-estar e para suas experiências futuras. É a oportunidade que se tem de aprender sozinho com sua própria falha sem se sentir constrangido em errar e tentar novamente. O brincar é fundamental para o desenvolvimento proporcionando a experiência do mundo. Ao brincar o ser humano desenvolve, entre outros, o seu lado emocional e afetivo, estando em constante momento de experimentação e aprendizagem. O ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais, sendo que as atividades lúdicas devem visar à auto-imagem, auto-estima, autoconhecimento e cooperação porque estes conduzem à imaginação, à fantasia, à criatividade, à criticidade e a uma porção de vantagens que ajudam a moldar suas vidas como crianças e como adultos.
O lúdico é usado como um recurso, que propicia um ensinar de forma correta, simples e divertida. Onde o aluno também constrói seu conhecimento, em brincadeiras próprias.
Brincar é coisa séria. A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento humano na medida em que possibilita a transformação de todas as coisas e produção de novos significados. A escola deve ser um espaço onde se possa reinventar o mundo. É claro que existem dilemas, conflitos e competições e tudo isso é tão saudável quanto à brincadeira. Se alguém perde, alguém ganha e a brincadeira é metáfora da existência. Só quem já perdeu um dia sabe o que é ganhar. Perder é tão educativo como ganhar. Ninguém experimenta o verdadeiro sabor da vitória sem antes ter fracassado. Descobrimos talentos, somos todos diferentes e cada um é bom em uma atividade específica. Fica a salva a subjetividade.
É profissional da educação quem sabe brincar... Acredito que o lúdico é uma abertura para uma verdadeira e sempre nova educação.
Ailton Dias de Melo